Os Três Montes


Sobre um monte,
Soberbo pedestal,
Sua voz ecoa ... distante
Soberana, triunfal!

Ensina graves e profundas lições,
Captando nas almas
As mais íntimas angústias
E as mais secretas aspirações.

Vivifica, pela Misericórdia, a Justiça,
Transmuda a Lei, em Humanidade,
Conclama ao Perdão o espírito de Liça
E libertando o homem pela fraternidade,
Revela Deus... na Paternidade!

Sobre um monte,
O mergulho dentro de si,
E o olhar, para o céu,
Como se já tivesse o porvir
Rompido o seu véu:

Como areia que o vento do deserto levanta,
É volúvel a alma das multidões;
Num momento, O escuta e louvores canta,
Noutro, se deixa enredar pelas superstições.

Mas sob uma aparência misteriosa,
A verdade é simples e singular,
Não a compreende, a alma preconceituosa,
Pois só o coração ... sói alcançar.

Sobre um monte,
O altar do sacrifício;
No chão o vício
Disputava seu manto.

É a covardia gerando um crime
Hediondo, já que leva ao calvário
Um Ser sublime, que redime
O homem, seu algoz e sicário.

Enquanto no firmamento
Entrechocam-se a treva e a luz,
Um terrível grito se faz ouvir – é o Rabi:
- Eli ! Eli ! Lama Sabachtani! (1)

Inclinando a cabeça, ainda exclama, Jesus:
- Consumatum est ! (2)
O corpo esvai-se na cruz ...
E o espírito vivificado, em êxtase profundo,
Faz-se, desde então, eterna “Luz do Mundo”.


(1) Mateus, cap.27, V.26 (Meu Deus ! Meu Deus ! por que me abandonaste ?)
(2) João, cap.19, V.30 ( Está consumado ! )